quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cafeína

'Hoje o dia amanheceu. Como todos os dias, sempre amanhece. Mas algo estava diferente. Levantei abri as janelas e o sol já estava lá, não sabia a quantas horas. O relógio estava parado assim como tudo ao meu redor. A cama desforrada, o livro da madrugada anterior,  o copo quebrado no chão, e o cinzeiro com alguns restos de cigarro. Chamei por Francisca, minha filha. No banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes. Coisas habituais. Desci a escalas, na sala apenas o silêncio, alguns brinquedos pelo chão, não havia móveis revirados, os porta retratos continuavam intactos guardando as lembranças, as histórias. Abri a porta da frente. O balanço no jardim dançava conforme o ritmo do vento. Na rua não passavam carros. Apenas o vizinho regava as roseirais. Ana deve estar querendo me pregar uma peça. Deixei a porta aberta, fui em direção a cozinha. Ana estaria a preparar o café,  mas essa manhã Ana não estava lá. Na geladeira um bilhete. Li e tornei a ler por várias vezes aquela carta. Após seu último paragrafo, havia um beijo, aquele mesmo beijo das cartas de amor que escrevia para mim na época de escola, com seu batom ''rosa- chá'' . Aquele beijo era sua assinatura, não dava para acreditar. Ana partiu, se foi, foi sem avisar. Mas porque Ana fez isso, vocês devem estar a se perguntar,  até hoje não sei o motivo. Só sei que agora os dias só tem manhãs. Não tem abraços, beijos, risos, e nem café da Ana para tomar.'

Apocalipse


''Derrepente viu-se sem chão, um abismo enorme o puxava para baixo, dentro do abismo havia fogo e gritos, tentou segurar nas laterais, mas não havia saída, olhou para o céu, nuvens negras anunciavam a chegada da tempestade, era o fim do mundo. Ao longe ouvia-se sons de trombetas e a mais bela canção que já se ouviu. Anjos clamavam justiça. A última lágrima escorreu de seus olhos. Como num estrondo o chão se fechou. E nunca mais se ouviu falar, naquele velho homem.''

Jarro

'' Quebrou-se, e mesmo partido, em cacos, no chão, pude ver o que havia dentro. Fiquei surpreso com o que vi. Rapidamente tentei colar, juntar pedaço por pedaço para voltar a ser como era antes, mas eram falhas as tentativas. Cortava a carne. Quebrava-se mais. Afinal, para quer juntar os cacos? O vidro era transparente, sempre esteve lá, e dentro não havia nada.'' 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

La Despedida.




Trancou as portas e todas as janelas. Conferiu cada fresta, brecha, rachadura, nada ele deixou, nada deixou de passar. Trancou-se. Chaves na porta a balançar. Livro na mão, cigarro acesso, noite escura. A lua no céu tentando entrar por alguma fresta, mas não havia espaço, espaço algum para a luz entrar. Apenas alguns lampejos, daquela vela antiga, acessa no altar, queimando lentamente, cheiro de rosa vermelha no ar. Mais um gole de cachaça, pinga ou derivados, como você queira chamar. No banheiro a luz acessa, o espelho foi visitar. Olhos amarelados, pele pálida, barda a fazer, cabelo a pentear. Pegou a navalha, não houve tempo há pensar. Pijama tingido de sangue.Último olhar no espelho, lágrimas no rosto. Apagou a luz, a vela, no altar fez sua oração e foi dormir, precisava sonhar.
É tempo de Rock'n' Roll . É inverno, o céu esta cinza, não há previsão para Sol. Época de sair as ruas. Hoje queremos aquela dose de tequila quente, sal e limão para adoçar. Queremos jeans, All Star e uma jaqueta black. Queremos sair em bando anoite, enquanto todos voltam do trabalho, gritando e sorrindo. As pernas bambas, apoiando-se um no outro. Queremos barulho, não importa que sejam os carros buzinando na hora do ruch, ou observar a correria para pegar o próximo ônibus. Queremos sim, uma foda bem dada, de transpirar. Liberar essa energia. Fumar um cigarro, ou vários. Queremos o lixo como é,  nada reciclado. Queremos vomitar palavras. Queremos dormir e não acordar. 


''Load up your guns and bring your friends It's fun to lose and to pretend She's overbored and self assured Oh, no, I know a dirty word...'' Nirvana
















..

terça-feira, 1 de maio de 2012

Jezabel



-Naquela noite tive um sonho. Fui transportado para um lugar desconhecido. Um corredor estreito. Ao fundo ouvia algumas vozes, risos e gritos. Caminhei por alguns minutos até me deparar com uma porta, a porta devia ter uns cinco metros de altura, era grande e parecia pesada, haviam grandes cadeados selando aquela porta, ao olhar para o chão havia uma chave, era linda cravejada de diamantes, abaixei, peguei a chave, as mãos tremiam, o que haveria por detrás daquela porta tão misteriosa. Respirei fundo, abri os cadeados, despia-se ali naquele momento os segredos guardados por muitos anos. Ao abrir a porta um ranger, de dor, tortura, ranger de dentes, assim foi meu primeiro contato com aquela porta. No primeiro momento me deparei com um enorme salão, pude observar algumas teias, um cheiro doce no ar, havia muita nevoa, arrisquei dar mais alguns passos. Uma voz me chamava, era como canção dos anjos, voz suave, melodia que encantava. Vaidade. Andando mais um pouco ao longe a avistei, estava lá, era ela, não era lenda. Sentada em um trono, trono esse de ouro, o ouro mais brilhante que já havia visto, nas laterais dois leões dormiam. Seu rosto coberto por um véu, véu negro, negro como a noite, noite sem luar. O véu a cobria da cabeça aos pés. Em sua mão direita segurava uma taça, nela estava gravado com ferro e fogo a palavra blasfêmia. Na outra erguida havia um chicote, era feito de couro e em cada abertura havia um nome, não consegui ler, minha vista estava embaçada, tudo rodava ao mesmo tempo, como sair daquele lugar passava a todo momento pela minha mente. Mas não havia saída. Era necessário. Em seus pés pude ver grossas correntes a prenderem, eram lindas as correstes, pude ver uma pedaço de sua pele, era branca, mas alva que a neve mais pura, mais linda que o nascer do Sol na primavera. A sola de seus pés apoiavam-se sobre um punhal, punhal de prata, refletia como espelho, espelho quebrado, por todas as direções. Na ponta do punhal estava gravado a palavra amor. Ao lhe perguntar o que significava tudo aquilo, ouvi apenas o silêncio, por cima do véu havia uma mordaça, vermelho carmesim, vermelho sangue, estava escrito MENTIRA. Em um canto da sala avistei uma carta, estava um pouco empoeirada, o papel meio amarelo se desfazia ao meu toque. Li toda a carta. Um lágrima rolou do rosto, a segurei, ali não era lugar para água, emoções. Pedi licença, ajoelhei em reverência aquele ser peguei o punhal e tudo escureceu. Estava consumado. Era o fim.

''20. Mas tenho contra ti que toleras Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que se prostituam e comam dos sacrifícios da idolatria.
21. E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição; e não se arrependeu.
22 Eis que a porei numa cama, e sobre os que adulteram com ela virá grande tribulação, se não se arrependerem das suas obras.
23 E ferirei de morte a seus filhos, e todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda os rins e os corações. E darei a cada um de vós segundo as vossa obras.''  (Ap. 2:20-23)

Escrito a carvão.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Samba Meu.

''Flor de liz, lírio ou margarida. Por do Sol, raiar do dia. O seu sorriso é o meu delírio. Essa morena quando desce a ladeira mexendo as cadeiras me faz viajar, em suas curvas, no seu gingado, com essa mulata, mulata da Vila eu vou me casar. E quando chego pertinho dela no samba a noite tentando agarrar, a mesma mulata, mulata abusada, sai de mansinho, fazendo charminho, com aguá na boca ela quer me deixar. Essa mulher me tira do sério, esconde mistérios, ela quer me matar. Invade meus sonhos na madrugada, deixando apenas perfume no ar. Mas se eu pego essa mulata, meu deus do céu, ela vai me pagar. Vou enchê-la de beijinhos até o dia clarear. Só abrirei minha porta para ver novamente da janela  a minha mulata, morena-mulata na rua passar.''

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Papel de pão.

-Precisava caminhar, caminhar por entre as ruas, as ruas da cidade, da praça ou  vila, caminhar sem destino, compromisso. Um fim de tarde de um domingo qualquer, naquele cenário urbano, entre carros e asfalto. Fim de tarde de outono, brisa no rosto, cabelos ao vento, peito erguido. Acender um cigarro, apreciar do tragar as cinzas. Naquela tarde se fez em folha, em vendaval, arrastando a cada passo, trago e carro, ruas, avenidas, calçadas e esquinas a solidão que lhe devorá, que se cala, e grita, gritava em silêncio. Tremor de dentro pra fora, não do frio, ou chegada do inverno. Grito de caça, espera, de dor. Procurando sua porta, seu perfume, os seus braços, nem que fosse para se fazer em aguá, cascata, tsunami, arrastão. Debulhar-se em lágrimas, gritar no seu portão, que seu amor  é só seu, mesmo você gritando que não, mesmo ele querendo que não. Pedir sua mão em casamento a sua mãe, irmãs, patrão. Só pra não passar mais um outono, inverno, primavera, verão, dormindo e acordando, sem você ao lado.


Escrito em papel de pão.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dias sim, dias não.


''-Estava ele lá, olheiras profundas de uma noite mal dormida, acreditava na chegada de um novo dia, talvez melhor que os anteriores. Mas sempre é assim, quando não há um bom começo, nada termina bem. Levantou  como de costume, abre as janelas, sente a clima quente de mais uma tarde de verão, no banheiro olha-se no espelho, na torneira não há água, daquelas gotas que pingam lava o rosto, não há tempo para esperas, simplesmente veste a blusa, aquela pretinha básica de sempre, uma calça daquelas largas, a que ganhou da avó no natal retrasado e seu all star vermelho, com os cadarços desamarrados, pega sua bolsa, tranca as portas e vai a luta, aquela nossa de cada dia. Na padaria, o mesmo pão na chapa, e o habitual café com leite para o desjejum. No ponto aguarda ansioso a chegada da condução, aquela mesmo, o 217 ou lata de sardinha, não sei, olha o relógio 15 min. para chegar ao trabalho. Nos olhos o brilho de sempre, no fundo um ar de tristeza. Coração acelerado, o telefone toca, será que era ela? Ao atender: - Alô!. -Alô, aqui é a Patrícia do banco é a respeito do débito que o senhor possui, o senhor tem um prazo de uma semana para quitar essa dívida. Agradece o telefonema e encerra  a ligação. Até que fim seu ônibus esta a caminho, paga a passagem, espremendo-se no meio da multidão busca um espaço seguro, confortável, para que possa reorganizar os pensamentos, encontrar seu eixo, talvez no meio daquele aperto pudesse encontrar o abraço que procurou durante toda a semana e o máximo que conseguiu, foi ouvir a voz da secretária eletrônica informando que o número que desejava ligar estava fora de área ou desligado. Mas isso não vem ao caso. (...)


Continua...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Russian Roulette

-Naquela noite resolveu fazer algo diferente. Diferente de abrir sua porta e só encontrar o vazio. De escrever cartas na madrugada para ninguém lê-las. De ouvir a voz da secretária eletrônica e depois dormir. De saber que ela estava nos braços de outro alguém. Aquele era o momento. Levantou-se da cama, olhou-se no espelho, pensou por alguns instantes. Mas já era tarde, a decisão estava tomada. Vestiu seu blusão, seu jeans desbotado e um sapato qualquer. Havia presa, precisava sair, cumprir sua missão antes que mudasse de idéia. Antes de se entregar a rotina. Arrumou o cabelo, daquele jeito meio bagunçado e simplesmente foi. Fazia frio lá fora, algumas pessoas caminhavam pelas ruas, muitas talvez iguais a ele, sem direção. Não haviam carros, nem ao menos ônibus. Seguiu em frente, passou por algumas ruas, umas desertas, no máximo um casal de namorados. No seu caminho alguns bares abertos, pensou em parar, pedir uma tequila, talvez uma cachaça, esquentar a alma, preencher o vazio daquela casa onde os móveis foram roubados e só restou o abandono. Mas parar seria considerado fracasso. Depois de caminhar por algumas horas, os pés já cansados, a boca seca, avista de longe uma igreja. Ouve alguns sons, resolve se aproximar, chegando perto uma multidão de gente, pessoas de todas as cores, línguas e estilos. Ainda meio perdido olha para frente, no altar um grupo de garotos. Eles tocavam Jazz, era o Jazz dos anjos, que acariciava a alma e elevava a mente. Que aos poucos o fazia esquecer de seus dias densos como chumbo. E diluia o amargo das palavras presas em sua garganta. Acende um cigarro, o primeiro do dia. As pernas doem, afinal havia caminhado bastante, já não se tinha noção do tempo aquela hora. Resolve sentar por alguns instantes no meio-fio em frente a igreja e observar o céu. O mesmo que de longe o espremia aqui embaixo. Não queria estar ali, voltar já não dava mais. Pensou naquele instantente se suas cartas haviam sido respondidas, mas estava longe demais de casa para averiguar nos correios. O que seria dele após aquela noite, pensou. Era ganhar ou perder. Jogo de azar. Onde estaria seu amor, naquela rua ou em outras. Preferiu não pensar. Os calos ainda doíam. Será que quando o dia clareasse era o momento de tirar a venda e acabar com o jogo. Refletiu. No final sempre um sai ferido. É apenas uma bala, mas de tanto apertar o gatilho uma hora alguém morre. Na frente daquela igreja talvez Deus o olhasse. Decidiu esperar o dia clarear. Era dia de ser super-herói de si mesmo por mais que o sacrifício fosse sua própria vida.




Escrito com sangue.

terça-feira, 6 de março de 2012

00:07 Sept Minutes.

Perfeição. -Sete para mim significa a quantidade de meses que ele me faz feliz. Que me amou de forma que não se acha em dicionário, apenas se ama. Sete é a quantidade de vidas, multiplicadas por sete e infinitos setes que quero estar com ele. Sete são as cores do arco-íris, pintadas pelas mãos do artista, mas não mais belas que suas cores. São os centímetros que ele é maior que eu. É a quantidade de dias da semana que penso nele.É a melhor fase da infância. É a fase da gestação onde pode nascer vida. É quantidade de bisx2 que ele come.rs. A hora que ele leva esporro por minha causa. É a quantidade de vezes que ligo para ele quando não me atende o telefone. Os gritos que ele dá comigo quando brigamos. No tarô significa superação. Sete é a quantidade de filhos que iremos ter. É onde tem a estação do ano em que mais gosto. Só sei que essa é minha sentença. Te amar.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pedras.

-Ela a prostituta. Mulher julgada, apontada nas ruas. Coitada da prostituta, ninguém conhece sua história ou ao menos perguntou. Não houve tempo. As pedras atiradas em seu corpo eram atração principal. Quem era aquela mulher, escondida atraz, do lápis de olho, batom vermelho sangue, provocante, quente como o verão. Quem era aquela mulher de vários homens, várias noites, vários bares. Será que foi dinheiro ou vaidade? Nada disso? Eu não sei, não lhe perguntaram. Não houve tempo. Seu corpo atirado ao chão. A povo reunido louvava sua desgraça. Humilhação. Coitada da prostituda. A mulher que só amou um homem. Somente um. E viveu em vão. 

domingo, 4 de março de 2012

Heroes.

-O menino tem tantos sonhos. Meio super-herói, não sei. É tão lindo ver isso dentro dele. Mas há tantas folhas, folhas secas, algumas raízes profundas, um pouco de lodo. Impede que nasça flor ali, naquele cantinho de sonhos, de vida. Naquele jardim tão jovem, tão rico. Muita coisa  a ser explorada, jogada no mundo, fazer diferença. Ser lembrado. Ele só precisa do jardineiro. O que rega suas manhãs, do sorriso do jardineiro que limpa as impurezas, torna tudo claro. Claro como luz do dia, do sol das tardes de domingo. Que faz o menino subir ao céu, na árvore mais alta e contemplar sua trilha, seu caminho. Que o faz dormir, contando histórias, em rimas, prosas e poesias. Cântico dos anjos. Que se faz em vento, vendaval, que arrasta o cansaço e a tristeza. Do jardineiro fiel. Que se doa, não se nega, se cala. Apenas para ouvir. Que ara a terra seca. Capa do herói. Ele só precisa do jardineiro abrigo. Nada mais. Apenas do jardineiro.

Ventania.

-Da noite anterior ficaram os copos com resto de bebidas, as roupas espalhadas pelo chão, seu perfume abraçado nos lençóis. Provas que não foi sonho. Que ele sempre volta no verão. E se vai no mesmo horário. Sem que eu veja. Não sofra.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Aqueles dias.


Sabe os dias em que você acorda sedento de carinho. Ao abrir os olhos já abraça o corpo, aperta o travesseiro, arrasta-se no colchão. Ao se levantar se revira pelo chão, acaricia os objetos, se beija no espelho. Vai para a varanda implora pelo vento e fica em silêncio tentando sentir cada raio de sol penetrando em sua pele. Sabe aqueles dias em que depois de fazer tudo isso você permanece vazio? Então...

Álbum.

-Lembrei-me daquela menina, ela mesma, a menina do parque, aquela do balanço. E todas as histórias que havia me contado naquela tarde de domingo. Fazia sol, o vento batia em nossa face. Passamos horas ali conversando. Ela me contou daquele certo homem,  daquela certa noite, daquele antigo amor. Me contou que em certa lua de alguma estação se  apaixonou por  um homem. Homem educado e de boa aparência. O homem a quem entregou sua alma, que se fez em laço e se desatou. Aquele que a deixou sozinha. O homem que rasgou sua alma  e seu coração. Que a deixou com a missão de todas as manhãs colocar talas nas feridas intermináveis. Arrancar a sangue frio as lascas de carne apodrecidas pelo tempo. Que plantou em seu olhar a semente da tristeza. Que secou seus ossos. Aquele mesmo homem que há fez sorrir. E se foi com outra.

Ontem de Ontem.


O horário de verão acabou, e mais um mês acaba de chegar. Assim... pesado. Sem que eu me desse conta. Chegou trazendo consigo uma noite não dormida e nos primeiros minutos  um calor de secar a alma. Chegou sem dar tempo para que eu arrumasse a casa, lavasse a roupa suja e guardasse os objetos jogados. Ainda esta no começo, são apenas algumas horas e acho que ainda dá tempo de organizar toda essa bagunça. Ele acaba de chegar e quero logo encontrar o inverno. Por mais melancólico que seja, lá encontro abrigo. Coisa que no calor é quase impossível. A correria do dia impede uma aproximação maior, não queremos muito contato. E o momento de queimar as coisas acumuladas durante as outras estações. Um quarto do ano se inicia, muita coisa ainda continua igual. Água parada. Estou ansiando por chuva, daquelas rápidas, mas que lava tudo, leva tudo embora. Para que possamos sentir a brisa suave e o cheiro de terra molhada.No verão só há poeira, daquelas que embaça tudo.  Mas ainda temos algumas horas pela frente o dia ainda não acabou, talvez algumas coisas mudem de lugar. Só não quero meu lado peixes pois esta tudo seco. Vou deixar o tempo levar, quanto tempo ele ainda permitir. Deixar a poeira baixar, logo virá a primavera.  Pois correm as águas de março.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Saco.

-Algumas pessoas têm o mal de acharem que sou pequeno demais, frágio demais e dependente demais. Pois falo a estas. Que suas preocupações são desnessárias. Que quando a barra realmente esta preta sou eu que enfrento o gigante sozinho. Me fodo sozinho, e morro sozinho. Estou cheio de sorrisos forçados e tapas nas costas. Não há necessidade. Simplesmente me deixem com meu cigarro e minha bebida e do resto cuido eu. Eu sei o que me faz bem e dessas não me afasto. E se pra vocês pouco importa, também digo o mesmo. O que é meu é meu. E se caso eu perder, me quebrar, isso já é uma questão minha. Engulam sua saliva e não desperdicem pronunciando meu nome pelas ruas. Eu já ando nas mesmas e sou aquilo que se vê. Se não agrada, se afastem. Se eu tiver apenas um amigo, pra mim já é coisa demais. Se não tiver me viro com o que tenho. É simples. Só não façam perder meu tempo escrevendo discursos de concientização barato. Isso tudo é uma questão de lógica. Cago para vocês. Tudo isso é muito chato. Fique com seu queijo e deixe o meu em paz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Resumo.


-É com ele que quero ter os meninos, as brigas cotidianas por causa das roupas espalhada pela casa, os almoços em família nos dias de domingo e compartilhar meu dia após chegar do trabalho. Que quero acordar descabelado e com bafo de leão. Que quero viajar nas férias  de Junho e em seu corpo nas noites de verão, de inverno, na verdade qualquer estação. É com ele que quero estar. Pois sem ele não há, simplesmente não há.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Depois da Santa Quarta.


-Eu boto o bloco na rua. Grito, danço, brinco. Faço barulho em meio ao silêncio, sem pronunciar uma palavra. A folia é aqui dentro. Um misto de sentimentos e sensações. Não sei explicar. Meu eu complexo. Lá no baú, onde ficam guardadas as máscaras, máscaras desconhecidas. Outras que você desperta. Sinto medo. O personagem se apoderou do artista. A brincadeira virou coisa séria. O Carnaval acabou.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Madrugada.

-Pegue aquilo que lhe cabe, que é teu e só a ti pertence.  Não deixe recado. As chaves estão no lugar de sempre. Deixe a casa como era.

(...)

-Faça do seu Carnaval o que quiser, só não me faça de palhaço!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Aquele Rascunho Guardado

Aqui a noite tudo se faz silêncio, ausência, se faz só. Tranco as portas e janelas. Me tranco no vazio, no oco, no ócio.  -O Tempo passa sem cumprimentar. Talvez tenha passado meu tempo. E o que dizer do que passou, que se foi, que já era. Haverá tarde amanhã?. Se ao menos chover ou ficar nublado...é algum sinal. Mas hoje...sim, hoje, nem sereno há.




Rascunho em um papel amarelado.

Pedaços.

-Se não me lêem, não irei escrever. Uma página é pouca para descrever. Não sei de mim uma linha.

Manhãs de Setembro.

Naquele bar, depois de algumas doses e de fumar o último cigarro. Aquele último cigarro amassado no bolso de seu Jeans desbotado. O menino decide não querer guerra.-Não por hoje. Os primeiros raios da manhã anunciavam a chegada de um novo dia. Levantou-se, chamou o garçom. Pagou o que devia. Sentindo a neblina ainda do início do dia põe sua jaqueta, vira as costas e vai embora. Parte em silêncio pelas ruas da cidade.

Alvo.

-A pior dor para mim é a escrita. Acelera o coração, dói na alma, falta o ar. É o momento da  vida em que mais fico ancioso. O momento em que o papel se revela. O momento em que fico Nu.

Ficção

-Eu já sabia das suas cartas, encontros e telefonemas. Sabia dos seus casos e descaso. Do seu prazer e do meu destino. Não previa via cartas do tarô, talvez pela fumaça do meu cigarro. Meu vício diario. -Cotidiano. A chuva era prevista, as nuvens no céu com seu cinza anunciavam a chegada da tempestade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Embriagado.

Sábado 05:00 a.m.


-Estou embriagado, não daquela substancia inflamável, aquele tal de álcool etílico. Estou embriagado de paixão, de desejo, completamente chapado, em transe. Tudo começou com pequenas doses e fui me viciando, hoje me vejo completamente dependente e a cura é o próprio veneno quente que corre em minhas veias, em suas veias. E lá estávamos, bêbados, nos afogando em suor e rolando pelos lençóis feito loucos, loucura essa que me deixa  tonto, perde-se o ar. Faz esquecer quem sou, me despir de mim mesmo,despi-lo, e se tornar uno. O melhor dessa dependência é a ressaca, a parte em que o corpo clama por descanso, onde perdemos o sentido. Mas não dura muito tempo logo vem a abstinência, essa vontade louca de me afogar em seu corpo, seu ser, sua alma, que dói nos ossos, músculos e sangra.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sede.

E foi assim, meio ano dele. Me aquecendo em seu corpo, bebendo de sua saliva, me alimentando de sua carne. Meio ano de reencontro, aquilo que minha alma ansiava desde antes do nascimento. Tudo tão intenso, tão meu, tão nosso. Onde até os desentendimentos eram prova de amor, reafirmação de necessidade um do outro. Dias em que minhas manhãs ficaram mais lindas e os dias mais lentos quando não estávamos perto, e se estávamos, já era saudade por ter que espera-lo novamente. E quando acho que transbordei de amor é somente achismo. Estou vazio. Quero ele até a última gota, até matar a sede, essa sede estranha. Sede de alma, de peito, que seca a boca. E se amor é sede, ele e a fonte de minha inspiração. Te amo!