quinta-feira, 15 de março de 2012

Russian Roulette

-Naquela noite resolveu fazer algo diferente. Diferente de abrir sua porta e só encontrar o vazio. De escrever cartas na madrugada para ninguém lê-las. De ouvir a voz da secretária eletrônica e depois dormir. De saber que ela estava nos braços de outro alguém. Aquele era o momento. Levantou-se da cama, olhou-se no espelho, pensou por alguns instantes. Mas já era tarde, a decisão estava tomada. Vestiu seu blusão, seu jeans desbotado e um sapato qualquer. Havia presa, precisava sair, cumprir sua missão antes que mudasse de idéia. Antes de se entregar a rotina. Arrumou o cabelo, daquele jeito meio bagunçado e simplesmente foi. Fazia frio lá fora, algumas pessoas caminhavam pelas ruas, muitas talvez iguais a ele, sem direção. Não haviam carros, nem ao menos ônibus. Seguiu em frente, passou por algumas ruas, umas desertas, no máximo um casal de namorados. No seu caminho alguns bares abertos, pensou em parar, pedir uma tequila, talvez uma cachaça, esquentar a alma, preencher o vazio daquela casa onde os móveis foram roubados e só restou o abandono. Mas parar seria considerado fracasso. Depois de caminhar por algumas horas, os pés já cansados, a boca seca, avista de longe uma igreja. Ouve alguns sons, resolve se aproximar, chegando perto uma multidão de gente, pessoas de todas as cores, línguas e estilos. Ainda meio perdido olha para frente, no altar um grupo de garotos. Eles tocavam Jazz, era o Jazz dos anjos, que acariciava a alma e elevava a mente. Que aos poucos o fazia esquecer de seus dias densos como chumbo. E diluia o amargo das palavras presas em sua garganta. Acende um cigarro, o primeiro do dia. As pernas doem, afinal havia caminhado bastante, já não se tinha noção do tempo aquela hora. Resolve sentar por alguns instantes no meio-fio em frente a igreja e observar o céu. O mesmo que de longe o espremia aqui embaixo. Não queria estar ali, voltar já não dava mais. Pensou naquele instantente se suas cartas haviam sido respondidas, mas estava longe demais de casa para averiguar nos correios. O que seria dele após aquela noite, pensou. Era ganhar ou perder. Jogo de azar. Onde estaria seu amor, naquela rua ou em outras. Preferiu não pensar. Os calos ainda doíam. Será que quando o dia clareasse era o momento de tirar a venda e acabar com o jogo. Refletiu. No final sempre um sai ferido. É apenas uma bala, mas de tanto apertar o gatilho uma hora alguém morre. Na frente daquela igreja talvez Deus o olhasse. Decidiu esperar o dia clarear. Era dia de ser super-herói de si mesmo por mais que o sacrifício fosse sua própria vida.




Escrito com sangue.

terça-feira, 6 de março de 2012

00:07 Sept Minutes.

Perfeição. -Sete para mim significa a quantidade de meses que ele me faz feliz. Que me amou de forma que não se acha em dicionário, apenas se ama. Sete é a quantidade de vidas, multiplicadas por sete e infinitos setes que quero estar com ele. Sete são as cores do arco-íris, pintadas pelas mãos do artista, mas não mais belas que suas cores. São os centímetros que ele é maior que eu. É a quantidade de dias da semana que penso nele.É a melhor fase da infância. É a fase da gestação onde pode nascer vida. É quantidade de bisx2 que ele come.rs. A hora que ele leva esporro por minha causa. É a quantidade de vezes que ligo para ele quando não me atende o telefone. Os gritos que ele dá comigo quando brigamos. No tarô significa superação. Sete é a quantidade de filhos que iremos ter. É onde tem a estação do ano em que mais gosto. Só sei que essa é minha sentença. Te amar.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Pedras.

-Ela a prostituta. Mulher julgada, apontada nas ruas. Coitada da prostituta, ninguém conhece sua história ou ao menos perguntou. Não houve tempo. As pedras atiradas em seu corpo eram atração principal. Quem era aquela mulher, escondida atraz, do lápis de olho, batom vermelho sangue, provocante, quente como o verão. Quem era aquela mulher de vários homens, várias noites, vários bares. Será que foi dinheiro ou vaidade? Nada disso? Eu não sei, não lhe perguntaram. Não houve tempo. Seu corpo atirado ao chão. A povo reunido louvava sua desgraça. Humilhação. Coitada da prostituda. A mulher que só amou um homem. Somente um. E viveu em vão. 

domingo, 4 de março de 2012

Heroes.

-O menino tem tantos sonhos. Meio super-herói, não sei. É tão lindo ver isso dentro dele. Mas há tantas folhas, folhas secas, algumas raízes profundas, um pouco de lodo. Impede que nasça flor ali, naquele cantinho de sonhos, de vida. Naquele jardim tão jovem, tão rico. Muita coisa  a ser explorada, jogada no mundo, fazer diferença. Ser lembrado. Ele só precisa do jardineiro. O que rega suas manhãs, do sorriso do jardineiro que limpa as impurezas, torna tudo claro. Claro como luz do dia, do sol das tardes de domingo. Que faz o menino subir ao céu, na árvore mais alta e contemplar sua trilha, seu caminho. Que o faz dormir, contando histórias, em rimas, prosas e poesias. Cântico dos anjos. Que se faz em vento, vendaval, que arrasta o cansaço e a tristeza. Do jardineiro fiel. Que se doa, não se nega, se cala. Apenas para ouvir. Que ara a terra seca. Capa do herói. Ele só precisa do jardineiro abrigo. Nada mais. Apenas do jardineiro.

Ventania.

-Da noite anterior ficaram os copos com resto de bebidas, as roupas espalhadas pelo chão, seu perfume abraçado nos lençóis. Provas que não foi sonho. Que ele sempre volta no verão. E se vai no mesmo horário. Sem que eu veja. Não sofra.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Aqueles dias.


Sabe os dias em que você acorda sedento de carinho. Ao abrir os olhos já abraça o corpo, aperta o travesseiro, arrasta-se no colchão. Ao se levantar se revira pelo chão, acaricia os objetos, se beija no espelho. Vai para a varanda implora pelo vento e fica em silêncio tentando sentir cada raio de sol penetrando em sua pele. Sabe aqueles dias em que depois de fazer tudo isso você permanece vazio? Então...

Álbum.

-Lembrei-me daquela menina, ela mesma, a menina do parque, aquela do balanço. E todas as histórias que havia me contado naquela tarde de domingo. Fazia sol, o vento batia em nossa face. Passamos horas ali conversando. Ela me contou daquele certo homem,  daquela certa noite, daquele antigo amor. Me contou que em certa lua de alguma estação se  apaixonou por  um homem. Homem educado e de boa aparência. O homem a quem entregou sua alma, que se fez em laço e se desatou. Aquele que a deixou sozinha. O homem que rasgou sua alma  e seu coração. Que a deixou com a missão de todas as manhãs colocar talas nas feridas intermináveis. Arrancar a sangue frio as lascas de carne apodrecidas pelo tempo. Que plantou em seu olhar a semente da tristeza. Que secou seus ossos. Aquele mesmo homem que há fez sorrir. E se foi com outra.

Ontem de Ontem.


O horário de verão acabou, e mais um mês acaba de chegar. Assim... pesado. Sem que eu me desse conta. Chegou trazendo consigo uma noite não dormida e nos primeiros minutos  um calor de secar a alma. Chegou sem dar tempo para que eu arrumasse a casa, lavasse a roupa suja e guardasse os objetos jogados. Ainda esta no começo, são apenas algumas horas e acho que ainda dá tempo de organizar toda essa bagunça. Ele acaba de chegar e quero logo encontrar o inverno. Por mais melancólico que seja, lá encontro abrigo. Coisa que no calor é quase impossível. A correria do dia impede uma aproximação maior, não queremos muito contato. E o momento de queimar as coisas acumuladas durante as outras estações. Um quarto do ano se inicia, muita coisa ainda continua igual. Água parada. Estou ansiando por chuva, daquelas rápidas, mas que lava tudo, leva tudo embora. Para que possamos sentir a brisa suave e o cheiro de terra molhada.No verão só há poeira, daquelas que embaça tudo.  Mas ainda temos algumas horas pela frente o dia ainda não acabou, talvez algumas coisas mudem de lugar. Só não quero meu lado peixes pois esta tudo seco. Vou deixar o tempo levar, quanto tempo ele ainda permitir. Deixar a poeira baixar, logo virá a primavera.  Pois correm as águas de março.