quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cafeína

'Hoje o dia amanheceu. Como todos os dias, sempre amanhece. Mas algo estava diferente. Levantei abri as janelas e o sol já estava lá, não sabia a quantas horas. O relógio estava parado assim como tudo ao meu redor. A cama desforrada, o livro da madrugada anterior,  o copo quebrado no chão, e o cinzeiro com alguns restos de cigarro. Chamei por Francisca, minha filha. No banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes. Coisas habituais. Desci a escalas, na sala apenas o silêncio, alguns brinquedos pelo chão, não havia móveis revirados, os porta retratos continuavam intactos guardando as lembranças, as histórias. Abri a porta da frente. O balanço no jardim dançava conforme o ritmo do vento. Na rua não passavam carros. Apenas o vizinho regava as roseirais. Ana deve estar querendo me pregar uma peça. Deixei a porta aberta, fui em direção a cozinha. Ana estaria a preparar o café,  mas essa manhã Ana não estava lá. Na geladeira um bilhete. Li e tornei a ler por várias vezes aquela carta. Após seu último paragrafo, havia um beijo, aquele mesmo beijo das cartas de amor que escrevia para mim na época de escola, com seu batom ''rosa- chá'' . Aquele beijo era sua assinatura, não dava para acreditar. Ana partiu, se foi, foi sem avisar. Mas porque Ana fez isso, vocês devem estar a se perguntar,  até hoje não sei o motivo. Só sei que agora os dias só tem manhãs. Não tem abraços, beijos, risos, e nem café da Ana para tomar.'

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