terça-feira, 17 de abril de 2012

Samba Meu.

''Flor de liz, lírio ou margarida. Por do Sol, raiar do dia. O seu sorriso é o meu delírio. Essa morena quando desce a ladeira mexendo as cadeiras me faz viajar, em suas curvas, no seu gingado, com essa mulata, mulata da Vila eu vou me casar. E quando chego pertinho dela no samba a noite tentando agarrar, a mesma mulata, mulata abusada, sai de mansinho, fazendo charminho, com aguá na boca ela quer me deixar. Essa mulher me tira do sério, esconde mistérios, ela quer me matar. Invade meus sonhos na madrugada, deixando apenas perfume no ar. Mas se eu pego essa mulata, meu deus do céu, ela vai me pagar. Vou enchê-la de beijinhos até o dia clarear. Só abrirei minha porta para ver novamente da janela  a minha mulata, morena-mulata na rua passar.''

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Papel de pão.

-Precisava caminhar, caminhar por entre as ruas, as ruas da cidade, da praça ou  vila, caminhar sem destino, compromisso. Um fim de tarde de um domingo qualquer, naquele cenário urbano, entre carros e asfalto. Fim de tarde de outono, brisa no rosto, cabelos ao vento, peito erguido. Acender um cigarro, apreciar do tragar as cinzas. Naquela tarde se fez em folha, em vendaval, arrastando a cada passo, trago e carro, ruas, avenidas, calçadas e esquinas a solidão que lhe devorá, que se cala, e grita, gritava em silêncio. Tremor de dentro pra fora, não do frio, ou chegada do inverno. Grito de caça, espera, de dor. Procurando sua porta, seu perfume, os seus braços, nem que fosse para se fazer em aguá, cascata, tsunami, arrastão. Debulhar-se em lágrimas, gritar no seu portão, que seu amor  é só seu, mesmo você gritando que não, mesmo ele querendo que não. Pedir sua mão em casamento a sua mãe, irmãs, patrão. Só pra não passar mais um outono, inverno, primavera, verão, dormindo e acordando, sem você ao lado.


Escrito em papel de pão.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dias sim, dias não.


''-Estava ele lá, olheiras profundas de uma noite mal dormida, acreditava na chegada de um novo dia, talvez melhor que os anteriores. Mas sempre é assim, quando não há um bom começo, nada termina bem. Levantou  como de costume, abre as janelas, sente a clima quente de mais uma tarde de verão, no banheiro olha-se no espelho, na torneira não há água, daquelas gotas que pingam lava o rosto, não há tempo para esperas, simplesmente veste a blusa, aquela pretinha básica de sempre, uma calça daquelas largas, a que ganhou da avó no natal retrasado e seu all star vermelho, com os cadarços desamarrados, pega sua bolsa, tranca as portas e vai a luta, aquela nossa de cada dia. Na padaria, o mesmo pão na chapa, e o habitual café com leite para o desjejum. No ponto aguarda ansioso a chegada da condução, aquela mesmo, o 217 ou lata de sardinha, não sei, olha o relógio 15 min. para chegar ao trabalho. Nos olhos o brilho de sempre, no fundo um ar de tristeza. Coração acelerado, o telefone toca, será que era ela? Ao atender: - Alô!. -Alô, aqui é a Patrícia do banco é a respeito do débito que o senhor possui, o senhor tem um prazo de uma semana para quitar essa dívida. Agradece o telefonema e encerra  a ligação. Até que fim seu ônibus esta a caminho, paga a passagem, espremendo-se no meio da multidão busca um espaço seguro, confortável, para que possa reorganizar os pensamentos, encontrar seu eixo, talvez no meio daquele aperto pudesse encontrar o abraço que procurou durante toda a semana e o máximo que conseguiu, foi ouvir a voz da secretária eletrônica informando que o número que desejava ligar estava fora de área ou desligado. Mas isso não vem ao caso. (...)


Continua...